domingo, setembro 25, 2005

Livro do Desassossego!!


Numa dessas minhas conversas com Manu pelo msn... Uma conversa sobre idealizações, Fernando Pessoa!



“Todo o homem de hoje, em quem a estatura moral e o relevo intelectual não sejam de pigmeu ou de charro, ama, quando ama, com o amor romântico.
O amor romântico é um produto extremo de séculos sobre séculos de influência cristã; e, tanto quanto à sua substância, como quanto à seqüência do seu desenvolvimento, pode ser dado a conhecer a quem não o perceba comparando-o com uma veste, ou um traje, que a alma ou a imaginação fabriquem para com ele vestir as criaturas, que acaso apareçam, e o espírito ache que lhes cabe.
Mas todo o traje, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e em breve, sob a veste ideal que formamos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em quem o vestimos.
O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.”

Trecho 111 - Livro do Desassossego
Fernando Pessoa

segunda-feira, setembro 12, 2005

Tempo: cuidado para não chegar atrasado!!




De manhã, toca o despertador e você pensa: “só mais cinco minutinhos!”. De repente eles viraram meia hora e você está atrasado para uma reunião importante no escritório.
À tarde aquela correria, mil coisas a fazer ao mesmo tempo e uma consulta marcada para o final do dia. Por pouco, mas chegou atrasado e passaram uma paciente na sua frente.
Final do dia, já cansada, mas com grande expectativa para o encontro de logo mais à noite. Trânsito horrível, olha o relógio de 5 em 5 segundos e o tempo não pára... e os carros não se movem. Atrasada no primeiro encontro.
Tudo bem... situações remediáveis.

Esses tempos, estava lendo um texto sobre Einstein: a relatividade do tempo. O quanto, com o passar dos anos, estamos nos tornando escravos do tempo... tão rápido e ao mesmo tempo tão lento.
Tantas circunstâncias profissionais, pessoais, amorosas... estamos sempre correndo, sempre em busca de algo... de algo mais... nunca é o suficiente. Uma questão muito interessante essa, pois no profissional aprendemos a máxima “Não pare, queira sempre mais!”, já emocionalmente aprendemos que há um cume, um limite “encontrar a pessoa e casar!”.

Então nesse final de semana fui casualmente assistir: “Procura-se um amor que goste de cachorros”. Sim é uma comédia água com açúcar, mas incrivelmente adaptada a essas questões das quais falei: tempo X procura.
Trata-se de uma mulher de 40 anos que, recém separada e incitada pela família, resolve buscar o recomeço da vida sentimental. Para tanto, as irmãs tentam apresentar amigos, colocam seu perfil em sites amorosos e, no meio de diversos desencontros, surge alguém. Porém aos dois parece que se encontraram tarde demais.
(pronto paro por aqui!)

Nesse ponto que eu queria chegar... quantas vezes fazemos planos, traçamos rotas, mas encontramos uma pedra no meio do caminho. Quantas vezes passamos pela sensação de termos chegado atrasados!
Atrasados numa reunião em que alguém deu aquela idéia importante antes de você. Atrasados quando numa festa alguém se aproxima dele (a) antes de você.
Será falta de coragem, de motivação, de iniciativa... ou falta de auto- conhecimento de nossas possibilidades, do que queremos?
Aposto mais nas últimas... por exemplo:

Você conhece alguém e se apaixona, mas tem dúvidas desse sentimento... se é isso mesmo que quer, se é a pessoa certa... Tudo por medo... e por medo muitas vezes fugimos.
Deixa esse sentimento guardado em algum lugar por não definir o que quer. Não é uma questão de ser a pessoa certa ou não, é uma questão de não se conhecer!
Os anos passam e você não lembra onde guardou esse sentimento... até que abre sua Caixa de Pandora e, com muita coragem, deixa sair de lá muitas lembranças, muitos sorrisos, muitas dores... sentindo-as ou não, você analisa cada uma... um aprendizado.
Chegamos então numa fase da vida em que vamos medindo e pesando as coisas que realmente nos são caras. Sentimentos, pessoas e idéias que preservamos e que deixamos para trás.
Redescobrimos as pessoas... nos redescobrimos. Não é fácil, pois teremos que vencer medos, sobrepor idéias e deixar de lado pré-conceitos. Reavivamos antigas amizades, repaginamos costumes... uma doce e singela dança de emoções!
No resgate, você se depara com aquele sentimento guardado anos atrás e descobre, num tom rosa e suave, que ele ainda existe... uma sensação de déjà vu.
Dúvidas voltam junto, mas essas devemos deixar para trás... é a parte mais criança que devemos ter quando somos adultos: sermos autênticos, sinceros conosco e com os outros... falar o que se pensa!

Então retorno ao filme... será que deixamos sempre o tempo passar por nós, sem nos darmos conta dos “pequenos” sinais importantes, deixando a oportunidade passar, a pessoa partir, a porta fechar por que jogamos com nossas vidas?!
Temos medo de falar o que sentimos, de falar sobre nós, de nos mostrarmos... criamos um personagem e... e jogamos.

Acontece que de tanto jogar você está perdendo TEMPO... o tempo bom que não volta nunca mais... e corre o grande risco de chegar ATRASADO (a) na vida de alguém... daquele amor de anos atrás!